Sexta-feira, 2 de Setembro de 2011
UM DE SETEMBRO DE 1939
O mês de Agosto tinha terminado debaixo de uma constante ameaça de instabilidade pacífica.
Charbelain, primeiro-ministro britânico, juntamente com o representante do ministério francês tinham cedido às exigências de Hitler, que lhes impôs pelo tratado de Munich pelo qual ardilosamente as exigências alemãs eram impostos. Os problemas da Polónia eram, praticamente, adiadas e quase esquecidas. A França e a Inglaterra cientes do seu parco poderio militar não estavam em condições de se lançarem numa aventura guerreira e, logicamente, pretendiam protelar, dar tempo a se prepararem os seus exércitos para enfim imporem uma aliança que impusesse o respeito pelo direito internacional perante a ameaça germânica.
E assim decorria aquela manhã nevoeirenta do princípio do mês. Meia dúzia de afoitos, apesar de um pouco de altas vagas, era com prazer que a língua da maré os trazia de reboliço até ao areal firme. E digo meia dúzia de afoitos, mais não eram e quase, senão todos, poveirinhos de gema. Os veraneantes de Agosto já tinham abalado, tostados pelo sol poveiro e crestados pelo norte cortante e os setembristas, em muito menor número que o mês anterior, mês em cheio, ou estavam a chegar ou a desfazer as malas. Tinham a tarde para principiarem a tostar, isto é se a ronca da Lapa, acabasse de roncar, sinal de que o nevoeiro tinha ido bater a outras bandas.
O Modesto continuava com as suas modinhas brasileiras – o Pirata da Perna de Pau, a Carmen Miranda e outras artistas e modinhas em voga – agora já instalado, junto ao Passeio Alegre, no areal, frente ao toldo do Miguel Mouco. Meio-dia dado o amigo Modesto, como de costume, encerra para almoço a estação radiofónica e na praia só zunir das vagas de faz ouvir aliado a alguma algazarra dos resistentes às vagas.
Assim decorre a primeira hora tarde e, com grande espanto e estranho, notamos que a Cabine de Som volta a emitir, não com modinhas, mas sim marchas guerreiras. Mas que é isto ? perguntamos augurando mal.
A voz tronitronante do Modesta, abra ao máximo as goelas dos alto-falante e atroa os ares com uma chamada:
“Atenção, muita atenção! ESTA MADRUGADA AS TROPAS DE HITLER, acabaram por invadir o corredor de Dantzig, principiando assim a tomada da Polónia e notícias já confirmadas dão como certo o bombardeamento da capital Varsóvia.” Três dias depois, a um domingo depois de um ultimatum e Inglaterra e a França declaram guerra à Alemanha. Os poucos veraneantes que se estavam a banhar das salsas ondas, abandonam a correr a língua da maré e correm até ao Café Universal, então o único com rádio, para ouvir o noticiário da Emissora Nacional que então principiava as suas emissões à uma da tarde.
Mal sabia que seis anos de guerra iria ensanguentar grande parte do mundo, - Europa, Ásia, África e Oceânia – e que, embora Portugal se mantivesse fora do conflito, eu também fosse tocado por esse cataclismo, e iria parar a Cabo Verde, o que para mim foi um grande passeio.
Braga, l Setembro de 2011
Luís Costa