Terça-feira, 12 de Junho de 2012
1893 – BRAGA NA SENDA DO PROGRESSO
A PRIMEIRA CIDADE DO PAIS COM ENERGIA ELECTRICA
Braga tem a honra de ter sido a primeira cidade do País a utilizar a Energia Eléctrica, para iluminação das vias públicas, casas particulares, oficinas e fábricas. Porém, é certo, que a primeira experiência, em Portugal, desta maravilha que transformou o mundo se realizou na Cidadela de Cascais, foi quando o Rei Dom Carlos, festejando o nascimento do herdeiro do trono, encomendou e pôs em funcionamento um gerador para alimentação das lâmpadas e arcos voltaicos, que puseram em deslumbramento os jardins e palácio real daquela cidadela. Findo os festejos, foi o gerador cedido à Câmara Municipal de Lisboa, que o aproveitou para, em determinadas noites de estio, iluminar o jardim público da Capital.
A novidade chegou depressa a Braga, servida, desde 1857, pela Companhia Geral Bracarense de iluminação a gás, por contrato então estabelecido para iluminação pública e particular. Ou porque “o serviço da concessionária deixara de ser inteiramente satisfatório”, ou porque “o Município desejasse dar um ar de modernidade” à cidade, decidiu em 1891, pôr a “concurso o fornecimento de luz eléctrica para competir ou mesmo substituir o gás”.
Concorreram duas entidades – António de Oliveira Guimarães e Augusto Laverré, ambos residentes no Porto, “que se obrigavam ao referido fornecimento, o primeiro por 16$800 reis, e o segundo por 16$000 reis anuais por lampião de iluminação pública”.
Abertas propostas foi adjudicado o serviço a Augusto Lavarré, cujo contracto firmado foi depois de aprovado pela Direcção de Administração Política e Civil, foi reduzido a escritura pública. O contracto fixava em 30 anos a concessão, prazo que decorreria entre 1 de Julho de 1893 e terminaria a 30 de Junho de 1923.Várias outras obrigações estabelecia o contracto mas que, por agora, não interessa para o escrito.
Constitui-se então uma Sociedade com o nome de SOCIEDADE DE ELECTRICIDADE DO NORTE DE PORTUGAL, da qual fazia parte Laverré e ainda, entre outros, os capitalistas Joaquim Pinto de Castro Guimarães, Custódio Duarte Braga e João Maria Pereira. Tratou logo de se assegurar o maquinismo necessário para a produção da electricidade. Resolveram de acordo com engenheiros especializados aproveitar a água do rio Cávado para accionar os geradores. Para isso, depois de uma cuidada inspecção, optaram pelo no lugar da Furada, do concelho de Barcelos, onde criariam um açude que retendo as águas, na sua libertação pudessem movimentar as máquinas. Resolvido o problema principiaram com a instalação de linhas de alta tensão, desde o referido lugar até Maximinos, na rua Cruz de Pedra, onde se instalaria a central de onde a partir daí irradiaria a distribuição.
Entretanto as Festividades do São João estavam à porta. A Sociedade quis aproveitar as festas, integrando nelas a inauguração da nova iluminação e, como tal, não se poupou a esforços, e anunciou que na noitada de São João, Braga, entraria numa nova era de progressos.
Segundo o contracto, a iluminação pública pela electricidade, teria de principiar no dia 1 de Julho desse ano de 1893. O tempo urgia. Praticamente, pouco mais do que dois meses, visto que o “Comércio do Minho” anunciava em Abril, a chegada a Braga, do engenheiro suíço, Muller, “ que vinha dar princípio à montagem da rede de iluminação eléctrica” ao mesmo tempo que dizia que o “estabelecimento das máquinas na Furada estavam muito adiantados.”
O mesmo escrevia, em 22 de Junho, que “os directores das Obras Públicas do distrito …
e um engenheiro da Sociedade … foram ontem proceder à inspecção das máquinas… A experiência deu óptimos resultados .”. Assim na véspera da festança estava tudo em ordem o que levou a concessionária a informar que as experiências seriam efectuadas pelos 3 da tarde do dia 23, e ao mesmo tempo anunciava que a inauguração, teria lugar às 9 da noite, com a iluminação eléctrica “do Largo de São Martinho, largo da Lapa, Campo de Santana, rua da Água e rua da Ponte”.
Apesar de todos os esforços, devido a uma avaria, talvez devido a sobrecarga, os fusíveis não aguentaram e, foi necessário fazer um reforço, e a desejada inauguração foi retida por umas horas.
Pela meia noite, à hora do fogo de artificio, finalmente foi a energia ligada, e um mar de luz iluminou as ruas citadas. Os pequenos globos de vidro, com o filamento de carvão dava realce às ruas e, os arcos voltaicos, estes instalados na Arcada, projectavam a sua luz pelo extenso Jardim Publico. Poucos forasteiros se preocuparam com o fogo, o que eles ficaram surpresos foi com a electricidade e os comentários surgiam por todo o lado “agora já não há noite, é sempre dia” , “isto é maravilhoso”, “fantástico, muito melhor que o gás” , “o azeite agora vai baixar” e o “petróleo e o carboneto são de outros tempos”, e o povo olhava estupefacto para tudo aquilo e não se cansava de exclamar : “parece o Céu”. Embasbacados, aqueles com melhores posses logo pensaram em levar para as suas casas semelhante inovação. Nessa altura “ já por parte de Particulares (colégios e estabelecimentos) houve pedidos de energia correspondente a 1.000 lâmpadas.”
A reacção da imprensa foi unânime nos seus elogios. Braga, destacava-se assim no plano Nacional. O semanário bracarense, no seu número de 28 de Junho, lê-se :
“Festejos de São João - A luz Eléctrica.
Uma das coisas que muito abrilhantou estas grandiosas festas foi sem dúvida a inauguração da luz eléctrica ….. Era notável a nitidez das lâmpadas eléctricas e os arcos voltaicos aos lados do Jardim Público eram realmente de efeito surpreendente. A direcção da companhia de electricidade, engenheiros da mesma companhia, são dignos de elogio pelos esforços que empregaram para que a luz eléctrica fosse inaugurada nesta ocasião.”
E assim, no dia 23, faz CENTO E DEZANOVE ANOS, que Braga, entrou com brilho NA NOVA SENDA DO PROGRESSO que proporcionou a energia eléctrica.
Braga – São João de 2012
LUÍS COSTA