Sexta-feira, 24 de Dezembro de 2010

O sal da LÍNGUA

O SAL DA LÍNGUA ESCUTA, ESCUTA : TENHO AINDA UMA COISA A DIZER. NÃO É IMPORTANTE, EU SEI, NÃO VAI SALVAR O MUNDO, NÃO MUDARÁ A VIDA A NINGUÉM – MAS QUEM É HOJE CAPAZ DE SALVAR O MUNDO OU APENAS MUDAR O SENTIDO DA VIDA DE ALGUÉM ? ESCUTA-ME, NÃO DEMORO. É COISA POUCA, COMO A CHUVINHA QUE VAI VINDO DEVAGAR. SÃO TRÊS, QUATRO PALAVRAS, POUCO MAIS. PALAVRAS QUE TE QUERO CONFIAR, PARA QUE NÃO SE EXTINGA O SEU LUME, O SEU LUME BREVE. PALAVRAS QUE MUITO AMEI, QUE TALVEZ AME AINDA. ELAS SÃO A CASA, O SAL DA LÍNGUA. Eugénio de Andrade (1923-2005)
publicado por Varziano às 13:03
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Terça-feira, 7 de Dezembro de 2010

folhetada há setenta anos

UMA FOLHETADA HÁ MAIS DE SETENTA ANOS Estava-se num período de perseguições políticas. O medo das ideias avançadas fazia tremer as autoridades. Tinha há pouco principiado a Guerra Civil Espanhola. Sanjurjo, um dos chefes dessa revolta militar tinha morrido, num acidente num acidente em Cascais quando se dirigia para Espanha, e Franco, saindo do Norte do Norte de África desembarca, na costa espanhola do Mediterrâneo à frente de um exército constituído por soldados de forças militares africanas, tomou para si o combate contra os republicanos espanhóis. Ora, as “folhetadas” era uma manifestação popular que, embora nada tivesse de orientação política, era uma manifestação contra alguma coisa e como em Portugal eram proibidas quaisquer manifestações, fossem elas políticas ou simplesmente apolíticas, não fosse “o diabo tecê-las”, estavam incluídas nessa proibição. Todos os poveiros, julgo, sabem o que eram as “folhetadas” e quais a sua origem. No entanto, talvez não seja despropósito trazer à luz do dia, as origens desse costume, hoje desaparecido e muito bem, porque cada um sabe “as linhas com que se cose” e ninguém tem a ver nada com o caso. Mas, vamos lá então às origens. São elas várias, tanto podia ser um casamento serôdio, uns nubentes já olhar para os pés, ou um velho com uma nova, ou um novo com uma velha, uma mulher que tinha abandonado o lar e depois, arrependida voltava e o marido recebia-a em festa, ou até quando um viúvo ou viúva não respeitava o nojo. É precisamente este último que vem de me servir para recordar uma “folhetada” ocorrida nesses já longínquos e conturbados tempos. Ali para a Senra, por perto do estabelecimento da Carmen Laranja (lá se faziam algumas patuscadas), numa casa que dava pelas traseiras para a Avenida, tinha falecido um honrado homem e, nesse tempo os cadáveres, normalmente, ficavam em Câmara Ardente, numa das salas da sua residência, esperando que, conforme as disponibilidades da família, fossem transportados para a Giesteira, no carro ambulância dos bombeiros, e então numa simples carreta. Metido no “seu sobretudo de pau”, estava o corpo do “esfalecido”, e ao lado, em grande lamúrias a inconsolável viúva:”Ai, meu patrão da lancha, quem há-de tomar conta do leme?”, “Ai, Senhor, levai-me para junto dele” e a choradeira seguia, num desabafar contínuo. Condoído um vizinho que por sinal era já antigo viúvo e como barbeiro foi quem escanhoou os queixos do infeliz que, como sua última vontade, tinha pedido à Micas que lhe rapassem a barba pois queria apresentar-se ao chaveiro do céu, com aspecto apresentável e não como um simples barbudo, chegou-se junto dela e principiou a animá-la: “Ó Senhora Maria, tenha paciência, agora não há outro remédio. Ele a esta hora está no Céu, bem barbeado que nisso ninguém me leva a palma, e como era um bom homem lá estará por toda a eternidade à sua espera. E com “pezinhos de lã”, sussurando-lhe ao ouvido: Anime-se, Senhora Maria, ainda é nova e vai ver que ainda está p’ras curvas, e ainda tem muito para andar” -“Não senhor João, agora acabou, qualquer dia estou com os pés p’rá cova” E assim lá foi o defunto “ocupar os sete palmos de terra” e a vida foi seguindo o seu ritmo só quebrado pelo “rapa pés” das constantes visitas do barbeiro à casa da viúva até que, dias depois, cheio de coragem, lançou o “isco”: “A senhora Maria, podia alcançar a felicidade se aceitasse o meu amor! (Lá romântico era o barbeiro !) -Joãnsinho, eu agora não quero mais nenhum e, para mais ele ainda está quente na cova”. Esta última parte do colóquio, deu ao barbeiro uma certa esperança e de novo dias depois, voltou à carga e ela, enredada, respondeu :”Ainda é cedo, e mesmo não podemos casar, sem passar os meses do luto. O padre não nos casa”. -“ Isso resolve-se facilmente, vamos a Espanha, e pronto”. E assim resolverem. O barbeiro, como a viúva, como por encanto desapareceram durante uns dias da Póvoa e, quando aparecem vinham de braço dado, ele com uma rosa na botoeira do casaco e ela, como não podia trazer flor de laranjeira, trazia um ramo de violetas e amores-perfeitos. E rebentou o escândalo. As más-línguas femininas já tinham pretexto para desenferrujar a língua. E os seus comparsas, talvez, por inveja, logo planearam o desforço da “folhetada”, mas o plano chegou aos ouvidos dos mandantes, e nessa noite, tomaram as precauções para o gorar. E para ter a certeza de que assim aconteceria ordenaram à polícia municipal, sob o comando de um cabo que patrulhassem a Senra e a Avenida. Como reforço, lá estaria também o Presidente da Câmara, o Administrador do Concelho, e o Alferes Soares que era o Comandante da Polícia Municipal. Ao anoitecer um magote de gente juntou-se à entrada da rua para “ver como paravam as modas”. A polícia tinha principiado a sua ronda, rua abaixo, rua acima e, as autoridades mandantes aproveitando aquele princípio de uma quente noite de Maio passeavam pela Avenida e ali estariam “caso as coisas corressem para torto”. A impaciência do público espectador, ansiava pelo desfecho mas ninguém ousava arriscar, até que um certo rapazola, catorze ou quinze anos, esperando ocasião propícia, quando a ronda estava lá para baixo, resolveu arriscar e de lata na mão e um pau, de que previamente se tinha provido, principia rufar como num tambor, dando assim inicio à “folhetada”. Ó meus amigos, foi de ver, a polícia a suar as estopinhas, o cabo resfolegar no seu bandulho de unto, a correrem rua acima até ao magote, e indagando quem foi o malandro, onde estava ele. Todos mudos, ninguém respondia, mas uma velhinha, quebrando o silêncio diz: “Foi um rapazinho, que fugiu ali pela Patrão Lagoa”. O cabo ordena então à força de repressão :”Vamos pela rua e temos de o caçar, que lhe vou dar uma boa ensinadela “. Escusada seria dizer que foi um expediente da bondosa velhinha, ela sabia que o maroto não tinha abandonado o quartel-general e ali estava encostado à parede segurando junto ao rabo “o corpo de delito”. Logo que a ronda seguiu, a correr, rua Patrão Lagoa, o maroto, com pressa se dirigiu para as Hortas, e se desfez da arma do crime, arremessando-a para um quintal. E assim, hoje, passados setenta e tal anos aqui estou a recordar, uma brincadeira que confirmou um velho costume : É QUE NESSE ANO, APESAR DA REPRESSÃO ANUNCIADA, HOUVE “FOLHETADA” Braga, 7 de Dezembro de 2010 LUÍS COSTA
publicado por Varziano às 14:00
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Domingo, 5 de Dezembro de 2010

Que atrapalhação ! . . .

QUE ATRAPALHAÇÃO ! Hoje vou contar um episódio dos princípios da minha vida de trabalho. Cedo principiei a “comer o pão que o diabo amassou”. Aí, com treze anos apenas, fui marçano, na Junqueira, no estabelecimento “Rosa de Ouro”, e é neste período que, certa manhã, me aconteceu uma peripécia que ainda hoje, decorridos tantos anos, me faz dores de barriga despertando gargalhadas quando a conto a alguém. No armazém, bastante escuro, onde se guardavam os sacos com os géneros de mercearia, massa, arroz, açúcar, amendoim e outros produtos, constantemente se deparava com os sacos, apresentando sinais de que por ali devia andar rataria. Era difícil, encontrá-los, pois quando se acendia a luz, eles, como por encanto, escapuliam-se. Para se averiguar, encarregaram-me de pôr à espreita na escuridão, e notando qualquer sintoma dos nojentos bichos, acender rapidamente a luz e ver por onde eles desapareciam. Dito e feito, lá me “pus à coca” e quando pressenti, dei ao interruptor e a luz brilhou. Então reparei que três ou quatro roedores fugiam e entravam por um pequeno buraco no chão, mesmo ao meu lado. Num acto irreflectido, dei uma “patada” sobre o buraco para impedir a fuga. Mas, julgava eu, que tinha conseguido impedir que o último “Mikey”, entrasse no buraco. Procuro, procuro e nada encontro, e “com os meus botões pensei” :foi mais ladino que eu! Entretanto, principiei a sentir na bochecha do rabo, uma arranhadela. “Boto” a mão às calças e senti um inchaço e ao apertar, ouvi um leve chiar. O raio do bichinho, não podendo entrar no buraco, resolveu a situação. Subiu pela perna das calças, e foi alojar-se no quentinho, pensando, se é que os ratos pensam, ESTOU A SALVO! Pois, meus amigos, nunca na minha longa vida me lembro de despir as calças tão depressa ! Luís Costa
publicado por Varziano às 15:38
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Flagrantes da vida real

FLAGRANTES DA VIDA REAL Por volta de 1960, quando as “eléctricas” estavam a principiar com os estudos para a Barragem de Vilarinho das Furnas, com a avaliação dos terrenos que se iriam afogar naquele grande lago artificial, para as indemnizações a conceder aos proprietários das parcelas respectivas, logo os construtores civis viram ali uma fonte de onde poderiam extrair a “massa” para os seus empreendimentos, tanto em Braga como em outras zonas e foi logo um correr para a mina que iriam explorar. Nesses anos estava até certo ponto ligado a alguns empreiteiros. Era o princípio de uma era de ouro para as construções mas, como ainda estavam a principiar, teriam que arranjar um “palonço”, com carro que os levasse até à serra, dado que, carro era ainda um sonho para eles. Assim um deles pediu-me, num certo domingo de Inverno, com a conversa de um belo passeio, o levar até Vilarinho. Arrancamos no fim de um almoço, isco para a passeata. Chegados a São João do Campo, depois de São Bento da Porta Aberta, seguimos pela estrada florestal até ao cimo, e aí deixamos o carro, e a pé, descemos até à freguesia pois o caminho era de “cabras”. Chegados ao fundão em que se situava Vilarinho, indagou o empreiteiro quem teria já sido abordado para o negócio das “eléctricas, assim chamavam. Lugar no fim do mundo, onde apenas havia quase que só a notar luzes da civilização, a Igreja, a Escola e o Posto da Guarda Fiscal, únicos cobertos a telha. As restantes casas, bastantes, eram quase todos cobertos a colmo e o muitos dos arruados eram aéreos, isto é de casa para casa transitava-se por lages sem molhar os pés. Aldeia comunitária tinha os seus costumes, as suas tradições, o seu modo de vestir, as mulheres, por exemplo, usavam a capa, espécie de saia, pelas costas e para as proteger do frio e dos espinhos do mato, nas pernas meias de lã, mas só parte cimeira, pois os pés estavam protegidos pelos tamancos. Perante esta ruralidade, fiquei espantado ao ver surgir entre aquela gente, feliz no seu viver, uma linda e novinha moça, na qual os modos da civilização citadina eram assinaláveis –“baton” nos lábios, cabelos penteados e cortados, vestido vistoso, sapatos modernos – coisas que destoavam entre as mulheres do lugar, quase todas vestidas de negro. Não me contendo, dirigi-lhe a palavra e vim a saber que era a professora da aldeia e, então entramos à fala : -: A menina, professora deste lugar, como veio parar aqui, a um lugar que, por certo, não estava habituada ? Onde estudou, foi em Braga ? E então saindo de Braga, uma terra muito diferente deste meio, como se adaptou ? -: Olhe, eu sou daqui. Os meus pais sempre moraram em Vilarinho e aqui nasci. -: Mas então acha que em Vilarinho, neste fim do mundo, onde não encontrará rapaz que “sirva para o seu pé”. (notem não estava a fazer-lhe namoro ). Não pensa casar ? -: À, isso penso. E espero que pode aparecer por aí, um Guarda Fiscal jeitoso!...
publicado por Varziano às 15:26
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