Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2011

Visita guiada ao Barroco de Braga

(Programa de um visita guiada, realizada em 1997,orientada por Luís Costa) VISITA AO ESTILO BARROCO NA CIDADE DE BRAGA Dia 22 de Novembro de 1997 - Sábado 10 horas - Concentração na Igreja do Pópulo Itinerário - Igreja do Pópulo - Praça do Município - Câmara Municipal - Fonte do Pelicano - Paço de Dom José de Bragança - Igreja da Misericórdia ( esta se estiver aberta ) - Largo do Paço - Sé ( Capela da Piedade, Capela de São Geraldo, altar da Senhora da Soledade, Órgãos, e, se possível, Cadeiral do Coro Alto e Sacristia da Sé ) - Senhora da Torre, Igreja de Santa Cruz e oratório de São Bento . Inscrições : na Divisão Cultural da Câmara Municipal de Braga - Telef. 6003152 - Fax 616060 Limite de inscrições a 40 participantes Hora provável do final da visita, 12.30 horas E S T I L O B A R R O C O Os artistas, escultores, entalhadores e mestres de pedraria, de Braga, não podiam ficar alheios ao movimento artístico que tinha despontado no centro da Europa. Depois da Reforma de Lutero, deu-se, com o Concílio de Trento, um regresso à primitiva ordem da Igreja - igreja pobre, sem a ostentação que vinha do Gótico. Surgem então as chamadas Igrejas Salão, cujo único motivo de direcção espiritual era o altar-mór para onde se dirigiam as orações do povo crente, cujo exemplo em Braga podemos encontrar na Igreja do Seminário. No entanto, as gentes habituadas ao fausto, riqueza e grandeza das catedrais góticas dificilmente se adaptavam à nova ordem. Surge então um movimento - a Renascença (renascer, voltar ao passado ) - que veio de novo trazer o povo à oração. Deste movimento surgiram, depois novos estilos, entre os quais o Maneirismo e, um pouco depois, o Barroco. Ora este movimento, ou estilo, é que foi bem aproveitado pelos artistas bracarenses, que a instâncias dos seus Arcebispos, deram à cidade, uma característica especial, transformando-a numa verdadeira cidade em que a arte do barroco se instalou e nos deu belos edifícios que ainda hoje perduram. Para isso muito contribuiu uma plêiade de artistas que com engenho e arte souberam aproveitar a dar um cunho especial, podemos dizer nacional, aos seus trabalhos. Justo será destacar de entre eles Marceliano de Araújo, André Soares, Luís Manuel da Silva, Jacinto da Silva, o pedreiro António Vidal, João Correia Monteiro, e muitos outros que seria fastidioso enumerar e não cabem nesta pequena memória. I G R E J A D O P Ó P U L O Situada a Poente do Campo da Vinha, a Igreja do Pópulo é hoje um repositório da arte barroca não só pela talha que nos apresentam os seus altares colaterais, como ainda pela azulejaria que reveste as suas paredes, altares um dos quais tem assinatura de António de Oliveira Bernardes. Como outros templos foi êste decorado com o gosto de uma época mais tardia do que aquela da sua fundação. Em pleno século XVIII, os artistas bracarenses do barroco deixaram ali a sua marca. Marceliano de Araújo, com o seu estilo muito pessoal, imprimiu o seu gosto, principalmente no altar de Nossa Senhora da Conceição. Ali se veem os atlantes, representados por pequenos anjos, motivo que aplicou em outras obras como veremos. C Â M A R A M U N I C I P A L Iniciada em 1753 sob risco de André Soares, o edifício da Câmara Municipal só foi terminado em 1865. Esta nova maravilha do barroco foi considerada pelo investigador Robert Smith como " uma das verdadeiras obras primas da arquitectura civil setecentista da Península Ibérica". Baseava esta afirmação na proporção do edifício e na fina lavoura do seu enquadramento granítico. É digno de nota o motivo central em que as volutas de grande originalidade, na arte portuguesa, inspiradas nos desenhos italianos de Borromoni, rematam na porta principal o frontão, em mitra, que encima esta construção e que revela um artista de apurado gosto, visão arquitectónica e dinamismo. Entre o frontão onde se destacam, sobrepostas, várias cartelas e a entrada principal, num nicho primorosamente lavrado, vê-se a imagem de Nossa Senhora do Livramento, colocada sob um acrotério, escultura do século XVI, que se encontrava na antiga Câmara, junto à Sé, mandada fazer por Dom Diogo de Sousa, e que depois ocupou por largos anos a Capela dos Reis. Note-se a simetria entre todas as janelas do rés-do-chão e também entre as portas com varandas do andar, entre as quais está o referido nicho. F O N T E M O N U M E N T A L Ao centro desta harmoniosa praça está colocada a chamada Fonte do Pelicano - uma peça barroca joanina, obra devida ao Arcebispo Dom José de Bragança - com escudo relevado ao centro da fonte - ovalado com as armas reais rematadas pelas insígnias arcebispais - chapéu arquiepiscopal e ainda sobrepondo-se a este conjunto um pelicano ( ? ) que lança pelo bico um jacto de água, jacto que também saí de dois meninos encavalitados, cada um, numa bola e também de dois pelicanos ( ? ), que outros dois meninos tem seguros. Estes conjuntos estão colocados, junto à borda de um tanque, que não é o original, pois quando esta fonte veio ocupar o actual lugar, foi adaptado bem como o centro onde está implantado o conjunto do Pelicano central, dando-lhe o gosto toscano. Pertencia esta fonte aos jardins do Paço de Dom José de Bragança e foi aqui colocada por volta dos anos de 50 deste século. A sua traça é atribuída ao artista bracarense Marceliano de Araújo PAÇO DE DOM JOSÉ DE BRAGANÇA ( Arquivo Distrital e Biblioteca Pública de Braga ) Ao lado Nascente da Praça do Município, pode admirar-se um grandioso edifício, o imponente Paço de Dom José de Bragança, obra de grande vulto manda fazer por êste arcebispo, Príncipe Real, que quis fazer da sua residência, um autêntico Paço Real. É atribuído o seu desenho ao arquitecto André Soares. Nele sobressai toda a magnificência e deslumbramento do barroco, com resquícios do ró-có-có, nos desenhos das suas pedras lavradas, nos remates das padieiras, nas volutas das entradas ( diferentes das da Câmara ) nas suas janelas na grandiosidade da sua entra principal, encimada por um rico e trabalhado balcão e até nos dois brasões colocados nos ângulos que formam a reentrância desta entrada. I G R E J A D A M I S E R I C Ó R D I A Saindo da Praça do Município, pela rua da Misericórdia, deparamos mesmo de frente com a Igreja da Misericórdia, a única fachada renascentista dos templos de Braga. Tem a data, numa cartela, de 1652. Foi mandada fazer pelo Arcebispo Dom Frei Bartolomeu dos Mártires. Neste templo, muito alterado no período barroco, é de notar sobre a porta de entrada o brasão de Dom Gaspar de Bragança, Arcebispo de Braga e, no interior o mais rico altar-mor barroco joanino de todas as igrejas de Braga. Constituído por três retábulos, o seu risco é devido a Marceliano de Araújo. No entanto, a principio os retábulos não iam até ao tecto. Um Provedor da Santa Casa, anos mais tarde resolveu que o mesmo Marceliano de Araújo os completasse. Para tal este notável artista bracarense, talvez pela avançada idade, não se julgou capaz de, sem ajuda, completar a obra. Para isso chamou o seu discípulo André Soares e, em conjunto, remataram a obra. L A R G O D O P A Ç O Neste largo, intervieram no seu arranjo três arcebispos, desde o século XVI até ao século XVIII. Como apenas nos interessa o século XVIII. século onde melhor o estilo barroco se afirmou, deixemos os dois arcebispos anteriores e vamo-nos debruçar sobre as obras de Dom Rodrigo de Moura Telles. A êste arcebispo se deve a ligação entre o antigo Tribunal da Relação Episcopal e a conhecida Galeria, Hoje é esta parte do monumental largo, um dos mais bonitos da cidade, a entrada principal da Reitoria da Universidade do Minho. Sobre a entrada principal uma vê-se uma varanda de inspiração barroca com seus pináculos e volutas encimada pelo Brasão de Fé de Dom Rodrigo de Moura Telles. Na verga sobre a porta, destaca-se uma inscrição latina - Ó DOMUS ANTIQUA QUAM DISPARI DOMINO DOMINARIS - anno de 1709 - que traduzida quererá dizer " Ó CASA ANTIGA ! QUANTO É DIFERENTE O SENHOR QUE TE GOVERNA ", frase que foi dita quando Dom Frei Bartolomeu dos chegou para tomar conta da Cadeira Arquiepiscopal no século XVI ( muito antes, portanto, da feitura deste lanço do Paço ) e que ainda modestamente acrescentou, referindo aos ilustres varões que o tinham antecedido, " Como é indigno o que hoje vem ocupar o vosso lugar " . A frase latina é atribuída a Cícero. Voltados para a entrada principal vemos ao lado direito, fazendo gaveto com a rua do Souto, mesmo onde ela principia, um edifício que vai até à pilastra que o separa do antigo Tribunal da Relação, e que ficou conhecido como a casa do guarda. É uma construção barroca mandada fazer por Dom Rodrigo de Moura Telles, como o atesta o seu brasão que está esculpido no brasão de fé, integrado no frontão fechado que se sobrepõe à porta. Possivelmente tanto este como o corpo principal, serão obras do arquitecto do Arcebispo, o oficial do exército Villa Lobos. Ao centro deste largo depara-se-nos o elegante Chafariz de Dom Rodrigo de Moura Telles, também conhecido por Chafariz dos Castelos, e que não é mais do que a representação heráldica do brasão de Fé deste Arcebispo - seis castelos à volta e um ao centro, encimado pela estátua da Fama, que tem na cabeça uma esfera armilar, símbolo da Ordem de Cristo, à qual o Arcebispo pertencia, e ainda a cruz arcebispal, em ferro. Foi construída a mando do Arcebispo, como se pode ver na base que sustenta a taça, onde além do seu nome, tem a data da sua construção, 1723. É, com muitas probabilidades, uma obra de Marceliano de Araújo, pois apresenta características muito usadas por êste artista que além de trabalhar a madeira, também usou a pedra - os Atlantes, anjos que sustentam a taça. A S É D E B R A G A Entrando pela porta lateral que do Largo Dom João Peculiar dá acesso as claustros da Sé, encontramos logo ao lado direito, uma porta ogival que dá entrada para a Capela de São Geraldo. A porta apesar do seu estilo, não é da época gótica, mas sim do Século XVIII, quando Dom Rodrigo mandou derribar uma possível Capela românica, para em seu lugar construir uma para albergar os restos mortais do primeiro Arcebispo de Braga, São Geraldo. Dentro vemos um retábulo de grande merecimento, em talha dourada barroca, estilo nacional, vendo-se no centro do camarim um túmulo que encerra os restos mortais do insigne arcebispo. As paredes são forradas com azulejos barrocos, figurativos hagiográficos, relatando passos da vida pastoral de São Geraldo. Passando para os claustros deparamos ao lado direito com a capela da Piedade - a velha Misericórdia - a qual possui alguns exemplares de altares de talha dourada barroca, como a do Espírito Santo e ainda a do altar-mór, em barroco nacional - fustes adornados com motivos vegetais e animais - e onde no camarim se vê o grupo escultórico da Piedade. Penetrando de seguida nas naves da Sé, pela porta junto à Pia Batismal, notamos logo um magnifico tecto pintado barroco, sobre o qual está o coro alto, obra em madeira exótica, mandada executar pelo Cabido Sé Vacante. Possuindo uma talha exuberante, parece ser devida ao entalhador portuense Miguel Francisco da Silva, por ter sido convidado a fazer a sua construção, quando o mesmo Cabido. Este cadeiral, que substituiu um outro renascentista mandado fazer por Dom Diogo de Sousa e que se encontra na Igreja de São Francisco, em Real, é um dos mais representativos motivos barrocos que se podem admirar na Sé. Outro motivo barroco não menos importante que êste são os órgãos. Construídos, um em 1737 e o outro em 1738 - que ao todo tem mais de 3.700 tubos - são devidos na parte musical ao frade galego Frei Miguel de Fontana, mas a sua imponência deve-se à deslumbrante talha, executada pelo já numerosas vezes citado, Marceliano de Araújo, que ali impôs toda a sua arte e características - atlantes aqui representados por faunos que sustentam nos seus ombros todo o peso ( em sentido figurado ) dos órgãos. Ainda falta ver o altar da Senhora da Soledade, em barroco nacional, também com os fustes das colunas enfeitados com motivos animais e vegetais. ORATÓRIO DE NOSSA SENHORA DA TORRE Deve-se êste oratório à devoção popular que em 1755, atribuiu a milagre da Senhora da Torre ter sido a cidade poupada ao horroroso cataclismo. Fizeram voto de construir naquele local, onde já existia uma pequena imagem da Senhora, um grande oratório. Em estilo barroco, é atribuído a André Soares, dada a similitude que apresenta, principalmente na volutas, com as da Câmara Municipal. I G R E J A D E S A N T A C R U Z É uma das mais belas, venerandas e sumptuosas igrejas bracarenses. Nela, no seu interior, respira-se todo o drama da Paixão de Cristo. A igreja com os seus altares laterais, num deslumbrante barroco, são devidos a alguns artistas bracarense, e não só, da época. O retábulo do altar-mór é já da transição para o neo-classicismo. e é da autoria do monge Frei José de Santo António Vilaça. A fachada de uma riqueza extraordinária, foi delineada em 1737 pelo reverendo arquitecto Geraldo Geraldes, e tem a encimá-la, no seu frontão, as estátuas de Santa Helena amarrada à Cruz, e em oração o Imperador Constantino Magno e o primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques, todos ligados aos milagres da Cruz. SÃO BENTINHO DO HOSPITAL Ao lado poente do Hospital de São Marcos, na rua de São Bentinho, fez-se ao tempo do Arcebispo Dom José de Bragança, um oratório no qual se colocou um painel com São Bento. Oratório barroco, é um lugar de devoção para muita gente de Braga e seu concelho. Foi benzido por provisão do Arcebispo em 1755. Braga, Novembro de 1997 LUIS COSTA
publicado por Varziano às 18:12
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