Segunda-feira, 30 de Janeiro de 2012
P a r n a s i a n i s m o
J O Ã O P E N H A
O “realismo em poesia acompanhado do estecticismo ou preocupação formal, á volta de temas exóticos ou comuns, sociais ou descritivos plástico—sensuais”, segundo a lição do prof,. Doutor Amadeu Torres (Castro Gil), em “Antologia Literária”, 2º vol., recebeu o nome de PARNASIANISMO. Afirma também o ilustre professor que o seu órgão era o jornal literário “A Folha, microcosmo literário” – 1868 – criado e dirigido por João Penha, ainda como estudante em Coimbra, com colaboração de Gonçalves Crespo, Guilherme Braga, Simões Dias, Guerra Junqueiro, Cândido de Figueiredo, Castilho, Antero de Quental, Teófilo Braga, Camilo, Gomes de Amorim.
Pela variedade da sua colaboração “ressalta o ecletismo” de A Folha que aceitava nas suas colunas, diz Doutor Amadeu Torres, os “metrificadores do ai ou de Lisboa” como “do mesmo modo que os “sacerdotes da ideia vaga ou de Coimbra”, como então chamava João Penha “aos românticos e realistas”.
O Parnasianismo, segundo o autor acima referido em “Antologia Literária”, defendia a “arte pela arte, a superioridade do bom cinzelador de versos”. João Penha, afirmava que o poeta poderá dever mais ao trabalho próprio, do que natureza, Dizia “O poeta não nasce, faz-se”.
João Penha ( João Penha de Oliveira Fortuna), poeta bracarense, nasceu em Braga, nos finais de Janeiro de 1838, no prédio nº 7 da Praça Municipal, Deve-se a Penha a repescagem do Soneto para a Literatura Portuguesa. O vinho, as mulheres, o presunto foi a trilogia sua inspiradora, manifestada ao longo da sua poesia. A sua negação pela água está bem representada na quadra :
“No coração alegria,
Em conversa bom humor ;
Pelo vinho simpatia,
Por água um profundo horror.”
Durante anos, João Penha, foi vítima do esquecimento injusto dos bracarenses e só em 1939, é que passou a ser lembrado, quando lhe ergueram o busto, no Largo de São João do Souto, da autoria de António de Azevedo: Mas a má sina de João Penha estava traçada, teria que andar aos tombos pela cidade e sempre acompanhado por aquilo de que “tinha…um profundo horror” – água – e ela, depois da morte de Penha, com a benevolência dos seus conterrâneos, vingou-se. A seus pés, no largo de São João do Souto, colocaram um espelho de água ; quando passou para a Avenida Central, foi assente num canteiro do jardim onde há um poço e finalmente, no Largo do Rechicho, sobre a antiga nascente de água que ali existia e, ainda para mais desconsideração, o seu busto foi colocado de costas para a Avenida.
Também a inauguração do monumento, não foi apressada, parece que os responsáveis de 1919, tinham uma certa relutância em proceder a acto. Vários dias esteve coberto por um trapo até que um grupo de irreverentes estudantes, num noite resolveu fazer à sua maneira a inauguração rapando e colocando aos seus pés uma jocosa quadra. E para terminar estas mal alinhavadas notas, passarei a transcrever um seu soneto e uma poesia, assinalada como inédita, numa publicação de 1909 :
R I M A S
UM ROSTO ENCANTADOR, QUASE MORENO,
DE UNS GRANDES OLHOS VERDES ANIMADO ;
NEGRO O CABELO, EM TRANÇAS ENASTRADO ;
CORRECTO O SUPERCILIO, IRIS SERENO ;
VERMELHO LÁBIO, SORRIDENTE E AMENO ;
BREVE A CINTURA ; O COLO, ASSETINADO ;
UM DONAIRE DAS OUTRAS INVEJADO ;
MAGRAS MÃOS ; O PÉ LEVE E PEQUENO ;
EIS A DAMA POR QUEM CHORANDO ANELO !
RIVAL DAS GRAÇAS DO CINZEL JÓNIO,
MAS FRIA COMO A NEVE : O MEU FLAJELO !
EIS A MINHA NATERCIA, O CRUEL DEMÓNIO
POR QUEM VIVO PERDIDO, MAS TÃO BELO
QUE NEM LHE RESISTIRIA SANTO ANTONIO !
P E R F I L
(inédito)
NÃO SERIA AMANTE O POETA,
E SE O SOU EU É POR MEU MAL,
SE A TI, CARA FLOR DILECTA,
NÃO FIZESSE O MEU MADRIGAL.
OS OLHOS AOS CÉUS LEVANTO :
VEM-ME IDEAS, MAS CONFUSAS.
QUE DIREI ? QUE TENS ENCANTO
A GRAÇA ANTIGA DAS MUSAS,
QUE MUITAS VEZES SINCERAS,
OU COM VOZES DE SEREIAS,
INSPIRARAM N’OUTRAS ERAS
CANTOS DE AMOR, EPOPEIAS.
OS TEUS OLHOS AZULADOS,
COM TONS DE GLAUCO MAR,
PRENDEM MINH’ALMA EM CUIDADOS,
FAZEM MINH’ALMA SONHAR.
FICO-ME COMO QUE OUVINDO
VAGOS SONS D’HARPAS EÓLIAS,
QUE A BRIZA ME TRAZ FUGINDO
POR ENTRE AS BRANCAS MAGNÓLIAS,
SE DE TEUS LÁBIOS DE ROSA
SABE A VOZ QUE NOS ENLEIA,
COMO UMA VOZ MELODIOSA
DUM ROUXINOL QUE GORGEIA.
NO TEU CABELO OPULENTO
CASTANHO-ESCURO, DOIRADO,
LÁ VIVE O MEU PENSAMENTO,
O MEU CORAÇÃO, COITADO
!
VIVO EM TI, NEM ME DOMINO,
QUE EM TODA A FACE DA TERRA
NÃ HÁ CORPO MAIS DIVINO
PELAS BELEZAS QUE ENCERRA !
QUE DESENHO IDEAL E FRANCO !
NOSSO AMOR, NOSSO MARTÍRIO !
CORPO DE MÁRMORE BRANCO,
E DENTRO . . . A ALMA D’UM LÍRIO !
CANTAR-TE MELHOR NÃO PUDE,
E ERA NOITE DE LUAR !
OH ! VEM, MEU TRISTE ALAÚDE,
VAMOS COM ELA SONHAR!
João Penha
Braga, Janeiro de 2012
Luís Costa