Quinta-feira, 20 de Setembro de 2012
HISTÓRIAS DE DOIS MONUMENTOS
Primeira:
As turbulências do Busto de João Penha.
João Penha, foi um poeta bracarense, que na sua obra, principalmente nos sonetos, sempre enalteceu as mulheres, o presunto, o paio e o vinho, arredando a água, pensando certamente, que só serviria para lavar os pés, para o mais longe possível da sua vista e paladar. Disto é prova suficiente a quadra que a seguir veremos :
NO CORAÇÃO ALEGRIA,
NA CONVERSA BOM HUMOR.
PELO VINHO SIMPATIA,
POR ÁGUA PROFUNDO HORROR !
Penha esteve, praticamente esquecido durante perto de 50 anos pela cidade que o viu nascer, até que, mais ou menos pela década de 30 do século ido, a Câmara de Braga e alguns intelectuais resolveram prestar uma homenagem ao seu concidadão, levantando-lhe um busto no centro da cidade. Para isso foi escolhido um quarteirão do jardim do Largo de São do Souto. E assim numa peanha em granito, rodeada por um murete, foi colocado o busto de João Penha, tendo a “seus pés”um espelho de água.
Pronto o monumento, questões burocráticas, iam atrasando a data da homenagem que estava programada para ser efectuada com grande aparato. Passaram tempos e sempre adiada, continuava o busto coberto por uma grosseira serapilheira. Então um grupo de irreverentes estudantes do Liceu Sá de Miranda, não se conformando com os sucessivos adiamentos tomaram a peito fazerem eles a inauguração. Numa certa noite, talvez já tomados pelo vapor inebriante do simpático prazer do Deus Baco, foram até a São João do Souto, arrancaram a serapilheira e puseram a descoberto João Penha.
Mas parece que ouviram, talvez, do além túmulo a voz do poeta ao ver onde estava e, como reclamando da situação com uma quadra que ali afixaram .
“O PENHA AO VER CHEGAR
A ÁGUA QUASE À TESTA
NÃO SE CONTEVE E DISSE,
MAS QUE . . . É ESTA !
E aqui principiou a odisseia para quem a “ÁGUA ERA UM HORROR”. Os seus conterrâneos que agora podiam afrontá-lo, puseram água aos seus pés. Tempos depois, durante “O primeiro Congresso Nacional de Filosofia” realizado em Braga em Março de 1955, a Câmara quis homenagear Francisco Sanches, resolve apear o busto de Penha e no seu lugar colocar o do filósofo, professor e médico, Sanches, cristão-novo, que foi batizado na próxima igreja de São João do Souto.
Para o busto de Penha escolheram, para sua nova morada, na Avenida Central, perto do Coreto, um lugar onde existe um poço de . . . água. Não contentes com esta acção, resolvem, tempos depois, levá-lo para o Largo do Rechisso, e nova afronta lhe fizeram – colocaram o busto sobre a Fonte do Rechisso, hoje aterrada, mas que lá está. Enfim um homem que não podia ver, em vida, água, depois de morto tem-na constantemente a “seus pés”
Segundo :
Francisco Sanches, cristão-novo, filósofo, médico, professor, como dissemos acima, foi ocupar o lugar primitivamente de João Penha. A estátua, oferecida a Braga, pelo Estado, foi esculturada no atelier de um conceituado escultor. Quando se achava pronta foi pelo escultor convidado o Presidente da Câmara, Santos da Cunha, a ir a Lisboa apreciar a obra. Santos da Cunha, acompanhado de alguns vereadores, foi ao atelier e, espantado, não gostou do Sanches, apresentado com uma pequena cabeça, que sobressaía de um avantajado corpo e ainda mais disforme pela sua indumentária,
Manifestou, entre dentes, o seu desagrado. Entretanto um dos amigos fez-lhe ver que não tinha razão, a estátua a Francisco Sanches, que ora lhes era dado observar era a assinatura do escultor: Tinha sido ofertada pelo Estado, logo tinha sido BARATA e considerava o trabalho FEIO, portanto representava a assinatura do escultor BARATA FEIO.
20 de Setembro de 2012
Luís Costa