Quinta-feira, 20 de Setembro de 2012
HISTÓRIAS DE DOIS MONUMENTOS
Primeira:
As turbulências do Busto de João Penha.
João Penha, foi um poeta bracarense, que na sua obra, principalmente nos sonetos, sempre enalteceu as mulheres, o presunto, o paio e o vinho, arredando a água, pensando certamente, que só serviria para lavar os pés, para o mais longe possível da sua vista e paladar. Disto é prova suficiente a quadra que a seguir veremos :
NO CORAÇÃO ALEGRIA,
NA CONVERSA BOM HUMOR.
PELO VINHO SIMPATIA,
POR ÁGUA PROFUNDO HORROR !
Penha esteve, praticamente esquecido durante perto de 50 anos pela cidade que o viu nascer, até que, mais ou menos pela década de 30 do século ido, a Câmara de Braga e alguns intelectuais resolveram prestar uma homenagem ao seu concidadão, levantando-lhe um busto no centro da cidade. Para isso foi escolhido um quarteirão do jardim do Largo de São do Souto. E assim numa peanha em granito, rodeada por um murete, foi colocado o busto de João Penha, tendo a “seus pés”um espelho de água.
Pronto o monumento, questões burocráticas, iam atrasando a data da homenagem que estava programada para ser efectuada com grande aparato. Passaram tempos e sempre adiada, continuava o busto coberto por uma grosseira serapilheira. Então um grupo de irreverentes estudantes do Liceu Sá de Miranda, não se conformando com os sucessivos adiamentos tomaram a peito fazerem eles a inauguração. Numa certa noite, talvez já tomados pelo vapor inebriante do simpático prazer do Deus Baco, foram até a São João do Souto, arrancaram a serapilheira e puseram a descoberto João Penha.
Mas parece que ouviram, talvez, do além túmulo a voz do poeta ao ver onde estava e, como reclamando da situação com uma quadra que ali afixaram .
“O PENHA AO VER CHEGAR
A ÁGUA QUASE À TESTA
NÃO SE CONTEVE E DISSE,
MAS QUE . . . É ESTA !
E aqui principiou a odisseia para quem a “ÁGUA ERA UM HORROR”. Os seus conterrâneos que agora podiam afrontá-lo, puseram água aos seus pés. Tempos depois, durante “O primeiro Congresso Nacional de Filosofia” realizado em Braga em Março de 1955, a Câmara quis homenagear Francisco Sanches, resolve apear o busto de Penha e no seu lugar colocar o do filósofo, professor e médico, Sanches, cristão-novo, que foi batizado na próxima igreja de São João do Souto.
Para o busto de Penha escolheram, para sua nova morada, na Avenida Central, perto do Coreto, um lugar onde existe um poço de . . . água. Não contentes com esta acção, resolvem, tempos depois, levá-lo para o Largo do Rechisso, e nova afronta lhe fizeram – colocaram o busto sobre a Fonte do Rechisso, hoje aterrada, mas que lá está. Enfim um homem que não podia ver, em vida, água, depois de morto tem-na constantemente a “seus pés”
Segundo :
Francisco Sanches, cristão-novo, filósofo, médico, professor, como dissemos acima, foi ocupar o lugar primitivamente de João Penha. A estátua, oferecida a Braga, pelo Estado, foi esculturada no atelier de um conceituado escultor. Quando se achava pronta foi pelo escultor convidado o Presidente da Câmara, Santos da Cunha, a ir a Lisboa apreciar a obra. Santos da Cunha, acompanhado de alguns vereadores, foi ao atelier e, espantado, não gostou do Sanches, apresentado com uma pequena cabeça, que sobressaía de um avantajado corpo e ainda mais disforme pela sua indumentária,
Manifestou, entre dentes, o seu desagrado. Entretanto um dos amigos fez-lhe ver que não tinha razão, a estátua a Francisco Sanches, que ora lhes era dado observar era a assinatura do escultor: Tinha sido ofertada pelo Estado, logo tinha sido BARATA e considerava o trabalho FEIO, portanto representava a assinatura do escultor BARATA FEIO.
20 de Setembro de 2012
Luís Costa
Segunda-feira, 10 de Setembro de 2012
O MUSEU DE IMAGEM
Como surgiu
Nas minhas andanças em busca de fotografias antigas e modernas sobre a cidade de Braga, certo dia em que preparava um texto sobre a igreja velha de Lomar que sabia ter sido o templo românico de um Mosteiro referido num documento de 1088, logo com interesse para o texto tratei de indagar se alguém da freguesia me podia dar alguma achega. Por casualidade encontrei o amigo Costa que era residente e natural de Lomar. Ora este amigo prontificou-se a prestar as informações que desejava e ao mesmo tempo franqueou-me a busca de fotos do Arquivo da Foto Aliança, do Largo dos Penedos, pois ele antigo funcionário desta casa, tinha sido o herdeiro não só da fotografia como de todo o seu espólio.
Na conversa que tivemos manifestou o amigo Costa o desejo de dar uma finalidade à grande quantidade de clichés em vidro e fotos, de Braga e de suas gentes, que estavam amontoados no armazém, em perigo de se inutilizar preciosos documentos relacionados com Braga monumental e social.
Como já se tinha levantado, em reunião da direcção da ASPA no Museu Nogueira da Silva, ao tempo dirigido pelo Arq. Luís Mateus, lembrei-me de sugerir a recolha desse material, mediante certa condições de protecção ao proprietário do espólio. Aceite pelo herdeiro, foi apresentada por ele uma proposta à Universidade do Minho para a sua aquisição. Não sei bem o porquê, o que é certo que houve um certo desinteresse da Universidade e o problema entrou em fase de adormecimento.
Passado uns tempos o Arq. Mateus, entrou para a vereação camarária com o cargo do pelouro de Cultura. Porque lhe tinha ficado na mente o aproveitamento do espólio Aliança, interessou-se para que a Câmara o tomasse. Estabelecidas as condições, com vantagem para ambas as partes – Câmara e proprietário – foi estabelecido o protocolo e a edilidade ficou senhora dos documentos fotográficos que, em perto de um século tinham sido focado pelos fotógrafos da Aliança.
Entretanto, Luís Mateus, deixou a Câmara, e o espólio que estava recolhido, em péssimas condições, num lugar húmido, numa pequena dependência da Casa dos Crivos foi, praticamente, redescoberto e perante o valor que tinham essas recordações da velha cidade alguém, creio que depois de uma das agora exposições e concursos feitos de fotografia, sugeriu em boa hora que a Câmara se interessasse em criar um MUSEU DA IMAGEM, na cidade, o que veio a acontecer com a sua instalação, no Campo das Hortas, junto ao Arco da Porta Nova.
E assim Braga pode recordar tempos idos através do espólio da velha FOTOGRAFIA ALIANÇA, no Largo dos Penedos.
Braga, 10 de Setembro de 2012
LUÍS COSTA
Domingo, 19 de Agosto de 2012
PALACETE ARANTES
Nos finais do século dezanove o Barão de Torrados vendeu ao capitalista brasileiro Adelino Arantes as suas propriedades, situadas em Infias, então quase arredores de Braga, constituídas pelos terrenos agrícolas – três quintas – e sua casa senhorial.
Adelino Arantes, natural de S. Pedro da Balança, filho de lavradores, cedo arribou ao Brasil, onde graças ao seu pertinaz trabalho, angariou elevada fortuna.
Como fornecedor do estado Pará, os seus proventos, auferidos com honrada vivência permitiram que regressasse a Portugal e passasse a residir em Braga, já que os negócios no Brasil ficariam a cargo do seu sócio.
Casado e com filhos pensou em construir na cidade, uma casa que fizesse jus à sua posição económica e social. Tendo tido a informação de que o Barão de Torrados tinha posto à venda as suas propriedades em Braga, estabeleceu contactos com este Senhor que chegaram a prolíferos.
Feita a escritura de compra, Adelino Arantes, julgando que a casa senhorial do barão não condizia com os seus anseios de se impor no meio da então sociedade bracarense, optou por destruir a velha mansão e fazer uma inteiramente nova ao gosto de brasileiro endinheirado. Depois de muito pensar resolveu confiar o projecto do seu palacete a um arquitecto portuense que era o técnico de um palacete que se estava a acabar de construir na cidade do Porto.
Assim obedecendo ao estilo pretendido surgiu o Palacete Arantes, com todo o requinte que os brasileiros de “torna viagem”, estavam a lançar em Portugal – portas e janelas altas, grandes salões, banheiros espectaculares, torreão, capela etc.
Custou a construção desta magnifica estrutura, que se distanciava pela sua imponência de todas as que até iam surgindo por Braga, a módica quantia de 18 contos de réis, ouro. Ali morou vários anos, os filhos mais novos ali nasceram e lá enviuvou e de novo casou.
Chamou para sua companhia um seu irmão – Monsenhor Arantes – que paroquiava um freguesia próxima de Braga. Como uma das coisas que se impunham como crente e brasileiro rico impôs ao arquitecto que no desenho do prédio, teria de ser incluída uma capela, que de facto ainda tem o Palacete onde então Monsenhor rezava missa quotidiana. Tudo corria às mil maravilhas, uma das filhas casa com um membro da melhor e mais distinta família de Braga.
Passados alguns anos, os negócios do Brasil principiaram a correr mal. Por um lado, o seu sócio desbaratou a casa comercial e os bens que tinha em Portugal eram constituídos por acções do Estado Brasileiro, do Fumo e Álcool. A crise que no Brasil, e no mundo, ocorreu por volta dos anos 30 do século passado, reflectiu-se nas companhias brasileiras que não só deixaram de pagar dividendos como até as acções perderam todo seu valor total.
Perante esta situação, Adelino Arantes, resolveu vender o seu palacete, e assim remediar da melhor maneira a sua vida. Mal aconselhado e porque era um individuo confiante em todos, vendeu, em 1943 ou 44, muito mal todo conjunto – casa e quintas andou à volta de 900 contos. Retirou-se logo e após a sua segunda viuvez para um lar onde acabou os seus dias.
O novo proprietário era um “volframista” em grande escala que fretava navios (estava-se ainda em guerra mundial. Todos sabemos e muito principalmente quem viveu esses calamitosos tempos, que os negócios do volfrâmio estava muito sujeito a grandes aldrabices. De manhã o quilo do volfrâmio andava à roda de 700$00 mas depois do meio já ia 800$. Era conforme a anunciada chegada dos navios cargueiros. A seriedade andava aos interesses dos aldrabões. Diziam que, de conivência com muitos fretadores, as cargas de volfrâmio, nos navios, era uma só camada superior e o resto era pura e simplesmente terra. Descoberta a marosca muitos tiveram que despender avultadas indemnizações. Não sei se o nosso volframista foi apanhado na alhada, mas o que é certo que o negócio deu para torto e o amigo teve que empenhar por mil contos o Palacete Arantes. O ano correu e por certo por mais dívidas o palacete foi à praça, sendo arrematado por dois mil contos pelo industrial bracarense António Marinho, o titular da hipoteca de mil contos.
E é desta maneira que o palacete foi parar à família Marinho. Continuando com a história, António Marinho, que era viúvo sem filhos casou em 1949.com Dona Mara Amélia Cunha. Poucos anos decorridos, António Marinho, faleceu ficando a sua viúva como usufrutuária das Empresas de Transportes Auto-Motora fundada e pertença de António Marinho. Depois de várias e demoradas diligências, formou-se uma sociedade constituída pela viúva e vários sobrinhos de ambos lados que continuaram com a exploração de camionagem. Com o 25 de Abril, dá-se a nacionalização mas, o Palacete Arantes, não fazia parte do espólio das empresas e ficou de parte.
Entretanto morre Dona Maria Amélia e o palacete entra para os herdeiros desta Senhora que, por sua vez não estavam interessados nem podiam habitar tão grande casa e de acordo resolveram o problema como hoje se encontra.
Esta é, pois a história daquele palacete que está hoje ao serviço do Turismo, devendo notar que a sua estrutura que assinala o gosto dos “Brasileiros de Torna Viagem” se mantém, no essencial, com o foi projectado em 1900.
Braga, 19 de Agosto de 2012
LUÍS COSTA
Terça-feira, 12 de Junho de 2012
1893 – BRAGA NA SENDA DO PROGRESSO
A PRIMEIRA CIDADE DO PAIS COM ENERGIA ELECTRICA
Braga tem a honra de ter sido a primeira cidade do País a utilizar a Energia Eléctrica, para iluminação das vias públicas, casas particulares, oficinas e fábricas. Porém, é certo, que a primeira experiência, em Portugal, desta maravilha que transformou o mundo se realizou na Cidadela de Cascais, foi quando o Rei Dom Carlos, festejando o nascimento do herdeiro do trono, encomendou e pôs em funcionamento um gerador para alimentação das lâmpadas e arcos voltaicos, que puseram em deslumbramento os jardins e palácio real daquela cidadela. Findo os festejos, foi o gerador cedido à Câmara Municipal de Lisboa, que o aproveitou para, em determinadas noites de estio, iluminar o jardim público da Capital.
A novidade chegou depressa a Braga, servida, desde 1857, pela Companhia Geral Bracarense de iluminação a gás, por contrato então estabelecido para iluminação pública e particular. Ou porque “o serviço da concessionária deixara de ser inteiramente satisfatório”, ou porque “o Município desejasse dar um ar de modernidade” à cidade, decidiu em 1891, pôr a “concurso o fornecimento de luz eléctrica para competir ou mesmo substituir o gás”.
Concorreram duas entidades – António de Oliveira Guimarães e Augusto Laverré, ambos residentes no Porto, “que se obrigavam ao referido fornecimento, o primeiro por 16$800 reis, e o segundo por 16$000 reis anuais por lampião de iluminação pública”.
Abertas propostas foi adjudicado o serviço a Augusto Lavarré, cujo contracto firmado foi depois de aprovado pela Direcção de Administração Política e Civil, foi reduzido a escritura pública. O contracto fixava em 30 anos a concessão, prazo que decorreria entre 1 de Julho de 1893 e terminaria a 30 de Junho de 1923.Várias outras obrigações estabelecia o contracto mas que, por agora, não interessa para o escrito.
Constitui-se então uma Sociedade com o nome de SOCIEDADE DE ELECTRICIDADE DO NORTE DE PORTUGAL, da qual fazia parte Laverré e ainda, entre outros, os capitalistas Joaquim Pinto de Castro Guimarães, Custódio Duarte Braga e João Maria Pereira. Tratou logo de se assegurar o maquinismo necessário para a produção da electricidade. Resolveram de acordo com engenheiros especializados aproveitar a água do rio Cávado para accionar os geradores. Para isso, depois de uma cuidada inspecção, optaram pelo no lugar da Furada, do concelho de Barcelos, onde criariam um açude que retendo as águas, na sua libertação pudessem movimentar as máquinas. Resolvido o problema principiaram com a instalação de linhas de alta tensão, desde o referido lugar até Maximinos, na rua Cruz de Pedra, onde se instalaria a central de onde a partir daí irradiaria a distribuição.
Entretanto as Festividades do São João estavam à porta. A Sociedade quis aproveitar as festas, integrando nelas a inauguração da nova iluminação e, como tal, não se poupou a esforços, e anunciou que na noitada de São João, Braga, entraria numa nova era de progressos.
Segundo o contracto, a iluminação pública pela electricidade, teria de principiar no dia 1 de Julho desse ano de 1893. O tempo urgia. Praticamente, pouco mais do que dois meses, visto que o “Comércio do Minho” anunciava em Abril, a chegada a Braga, do engenheiro suíço, Muller, “ que vinha dar princípio à montagem da rede de iluminação eléctrica” ao mesmo tempo que dizia que o “estabelecimento das máquinas na Furada estavam muito adiantados.”
O mesmo escrevia, em 22 de Junho, que “os directores das Obras Públicas do distrito …
e um engenheiro da Sociedade … foram ontem proceder à inspecção das máquinas… A experiência deu óptimos resultados .”. Assim na véspera da festança estava tudo em ordem o que levou a concessionária a informar que as experiências seriam efectuadas pelos 3 da tarde do dia 23, e ao mesmo tempo anunciava que a inauguração, teria lugar às 9 da noite, com a iluminação eléctrica “do Largo de São Martinho, largo da Lapa, Campo de Santana, rua da Água e rua da Ponte”.
Apesar de todos os esforços, devido a uma avaria, talvez devido a sobrecarga, os fusíveis não aguentaram e, foi necessário fazer um reforço, e a desejada inauguração foi retida por umas horas.
Pela meia noite, à hora do fogo de artificio, finalmente foi a energia ligada, e um mar de luz iluminou as ruas citadas. Os pequenos globos de vidro, com o filamento de carvão dava realce às ruas e, os arcos voltaicos, estes instalados na Arcada, projectavam a sua luz pelo extenso Jardim Publico. Poucos forasteiros se preocuparam com o fogo, o que eles ficaram surpresos foi com a electricidade e os comentários surgiam por todo o lado “agora já não há noite, é sempre dia” , “isto é maravilhoso”, “fantástico, muito melhor que o gás” , “o azeite agora vai baixar” e o “petróleo e o carboneto são de outros tempos”, e o povo olhava estupefacto para tudo aquilo e não se cansava de exclamar : “parece o Céu”. Embasbacados, aqueles com melhores posses logo pensaram em levar para as suas casas semelhante inovação. Nessa altura “ já por parte de Particulares (colégios e estabelecimentos) houve pedidos de energia correspondente a 1.000 lâmpadas.”
A reacção da imprensa foi unânime nos seus elogios. Braga, destacava-se assim no plano Nacional. O semanário bracarense, no seu número de 28 de Junho, lê-se :
“Festejos de São João - A luz Eléctrica.
Uma das coisas que muito abrilhantou estas grandiosas festas foi sem dúvida a inauguração da luz eléctrica ….. Era notável a nitidez das lâmpadas eléctricas e os arcos voltaicos aos lados do Jardim Público eram realmente de efeito surpreendente. A direcção da companhia de electricidade, engenheiros da mesma companhia, são dignos de elogio pelos esforços que empregaram para que a luz eléctrica fosse inaugurada nesta ocasião.”
E assim, no dia 23, faz CENTO E DEZANOVE ANOS, que Braga, entrou com brilho NA NOVA SENDA DO PROGRESSO que proporcionou a energia eléctrica.
Braga – São João de 2012
LUÍS COSTA
Terça-feira, 15 de Maio de 2012
CHAVES , NOS VELHOS CAMINHOS DE SANTIAGO
Um dos tradicionais acessos ao vale magnífico vinha do oeste, seguindo quase sempre o curso da multi-secular estrada romana que ligava a cidade de Braga com Áqua Flavis e Astorga : pontões e trechos bem conservados da calçada imperial orientavam As caravanas até Chaves …. pelo planalto barrosão encontramos grossa coluna vial romana a servir de pé a uma cruz.
Há uma centena de anos, ainda o velho caminho trazia a Chaves caravanas devotas …..Recolheu-se por esse tempo a lenga-lenga de um espirituoso almocreve da Lage ….Braga, o qual nos dá as escalas do percurso …… os povos da margens da via, com quem contactava amiúde :
“Almocreves são da Lage,
Tacheirinhos são de Prado,
Lavalmalgas Romeirinho.
Os maus homens do Carvalho,
Videirinhos do Pinheiro,
‘Stalajadeiros de S. Gens,
Saem grilos ao Torrão,
Papa-santos Igreja nova,
Borradouros Pousadouros,
Boas pingas no Arrechão,
Rasga-baetas no Penedo,
Fura-bolos são da Foz,
Cega-mochos das Gosgominheiras,
Mosquinhas são de do Cubo,
Os moleiros são de Cela
Demandistas de Salamonde,
Ruivães, poucos e que tais,
Esfola-cabras nas Boticas,
Tripa-longa Lamalonga,
Arranjados são de Campos,
Grande Fêmea de Padrões
Pára-borra Venda Nova,
Saca-bolsas Codeçoso,
Mata-lebres Pae Afonso,
Os lobeiros são da Serra,
Manteigueiros das Alturas,
Ratoneiros da Atilho,
Perfumados das Lavradas
Arrebita Carvalhelhos,
Arrinca-nabos são de Beça,
Os rabinos são das Quintas,
Futriqueiros das Boticas,
Muitas fêmeas tem a Granja,
Sapelo e Sapiãos,
E muitas mais Ventuzelos (Bentuzelos)
Ferra-moscas Casas Novas,
Ribeirinhos de Curralha,
Cornudinhos são do Cando
Trampolineiros Casas dos Montes
Pouca nobreza há em Chaves,
Padeirinhas de Faiões,
Castanheiros de Assoreias,
Castelo de Monforte,
E paro aqui que vou p’r’o Norte.
Segundo Francisco Gonçalves Carneiro, no seu livro “Chaves Heróica” ,(donde extraímos todo o discurso desde o início até aqui) era este o caminho dos Romeiros a Santiago de Compostela que a partir de Braga, dentro do território nacional, utilizavam a velha estrada romana. Como a Jovem Coop está interessada em divulgar essa via achei por bem dar-lhes este chocarreiro itenerário.
Como tal peço, ao amigo Presidente, Dr. Firmino, o favor de lhes fazer chegar este meu atrevido email.
Com os meus cumprimentos
Luís Costa
Segunda-feira, 12 de Março de 2012
ESCLARECENDO UMA CONFUSÃO
Ao folhear os jornais de hoje, Diário do Minho e Correia do Minho, deparei com uma notícia, que dada a semelhança me leva a concluir que deve ter tido a mesma origem :
“Campo das Hortas mantém jardim e a Fonte de
D. José”
….jardim romântico lá existente …“nada será
alterado… e muito menos na zona ajardinada
da fonte do arcebispo D. José de Bragança “
Ora é precisamente sobre o nome que atribuíram à fonte que está a confusão. Reportando-me aos Tomo I I I, da obra de Monsenhor Ferreira, “Fastos Episcopais” pag. 104, vemos que o Arcebispo Dom Frei Agostinho de Jesus (1588/1609) … “ornamentou a cidade com várias fontes públicas : no Campo de Sant’Ana”… e em roda-pé (3) :
“Esta majestosa fonte foi demolida em Junho de
1865. Vid.“Memórias de Braga”de Senna Freitas.
Vol, IV, pag. 259. Actualmente encontra-se erguida
ao centro do Campo da Hortas.”
E acrescento eu: quando da transformação do Campo de Sant’Ana, em jardim público e depois o fontanário, de D. Agostinho que estava em frente da Arcada (ver gravura então publicada do “Arquivo Pitoresco”), foi dali, não demolido, mas colocado no Campo do Salvador (hoje Mercado Municipal), onde se manteve até mais ou menos 1913, quando foi para o Campo onde hoje está, e do qual foi arredado o cruzeiro de Dom Furtado de Mendonça, e colocado nas Carvalheiras.
Portanto por deficiente informação surgiu o nome de Dom José como o tivesse mandado construir. No entanto deve haver uma explicação para todo êste imbróglio. De facto por ali por perto, na rua Andrade Corvo, num espaço arrelvado, em princípio destinado a jardim infantil, no muro da cerca do Casa dos Biscainhos (Museu) está lá, entre dois motivos decorativos, a CABECEIRA de uma fonte que Dom José mandou fazer junto à Casa de Val Flores, Infias, à entrada de um caminho que dava para o Areal. Quando se construíram as novas instalações do R. I. 8 , e se abriu a rua, foi desactivada a fonte e aproveitada a sua cabeceira para, de certo modo, não se perder a memória colocada no actual recinto onde está e estava destinado a jardim infantil. Este fontanário recebia água do manancial mandado explorar por Dom Rodrigo de Moura Telles, em Montariol.
Braga, 12 de Março de 2012
Luís Costa
na
Terça-feira, 28 de Fevereiro de 2012
M A R Ç O
Chamou-se Março o terceiro mês, porque Rómulo o dedicou a Marte seu pai e porque nesse tempo diziam que Juno parira a Marte em Frigia. Neste mês costumavam acender em Roma o novo Lume no templo de Vesta e durava todo o ano aceso; como também renovavam o Capitólio as coroas de Louro, qu estavam secas do ano passado, para se darem aos que Pátria alcançavam algum triunfo. Os Egípcios chamaram a Março, Plamenoth. Os Atenienses, Antesterion. Os Macedónios, Iectis. Os Capadoces, Xadtir. Os Gregos e Aquivos, Disbros. Os Bitinios, Metros. O Ciprios, Alnicos. Os Alemães, Mertz. Os Hebreus, Nisan. Os Persas, Macherameth. Os Árabes, Rage. Os Ingleses, Rodomanath.
As observações para este mês devem as seguintes :
QUEM NESTE MÊS SAÚDE DESEJA,
BEBA DO DOCE VINHO, E SEUS MANJARES;
SEJA DOCE ; E O COSIDO SEJA PORRO (alho) SEJA ;
DE ERVAS CHEIROSAS BANHE O CORPO EM MARES :
NÃO UZE DE SANGRIAS, SEM QUE ESTEJA
EM PERIGO ; OS XAROPES SÃO AZARES :
TOME, SE QUER SARAR, SUMO DE ARRUDA,
QUE FAZ BEM À CABEÇA E A VISTA AJUDA.
Portugal Médico ou Monarquia Medico-Lusitana – Coimbra - 1726
Terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012
F E V E R E I R O
Ao segundo mês do ano, chamou Numa Pompilio, Fevereiro, em honra de Februo, que também se chama Plutão, deidade falsa das fúrias e do inferno que entre os Romanos era o ídolo das purificações, luminárias, purgações e a ele concorriam com sacrifícios nesse tempo para se purificarem e expiarem as culpas que tiverem cometido ; por isso a este mês chamaram Fevereiro que vale tanto como purgativo e sacrificativo, porque Februare é o mesmo que Purgare, Purum facere. Mas a religião Católica e Cristã em contraposição deste absurdos instituiu neste mês o solene e Santíssimo dia da Purificação de Maria Virgem, em cuja honra concorrem os fiéis aos Templos a purificar-se por necessidade, assim como a Senhora o fez por exemplo. Este mês em tempo de Numa, trazia 29 dias e o ano da Intercalação feita por César trazia 30. Depois Augusto César tirou-lhe um dia, e o ajuntou a Agosto e assim ficou este mês no ano comum com 28 dias e no bissexto com 29.
Os Egípcios chamam Mechir. Os Hebreus, Adar. Os Bitinios, Ethmos. Os Cipros, Apagonicos. Os Gregos, Targihon. Os Alemães, Hormandr. Os Inglezes, Solmonath. Os Árabes, Lumedi fecund.
As observações Económicas, Prognósticas e Médicas deste mês, indicam :
UZA DA CONFEÇÃO DO MEL ROSADO,
PORQUE RESOLVE O FRIO E DA CABEÇA
AS DORES TIRA ; PÕEM DE PARTE O ASSADO,
E GUIZADO COZIDO NÃO TE ESQUEÇA ;
UZA A SANGRIA PARA SER PURGADO,
SE QUERES QUE A SAÚDE SE ESTABLEÇA ;
POIS SE LIVRA QUEM ESTAS REGRAS AMA
DA SARNA, E DE OUTRO MAL, QUE A FRANÇA INFAMA
Portugal Médico ou Monarquia Medico-Lusitana – Coimbra 1726.
Sábado, 4 de Fevereiro de 2012
HOMENAGEM A
MANUEL AGONIA FRASCO
No passado dia 3 de Dezembro, foi homenageada no Museu da Póvoa a memória do meu grande Amigo (AMIGO com letra grande, como ele o merece), Manuel Agonia Frasco que, durante talvez mais de cinquenta anos se manteve como director do centenário jornal poveiro “O Comércio da Póvoa de Varzim” , agora, infelizmente, arredado das bancas. Com pena e desgosto vejo assim desaparecer uma publicação que ao longo de CENTO E OITO ANOS se bateu pelo ideal manifestado do seu republicanismo, na defesa dos interesses da Póvoa e das suas gentes, sem distinção, fossem eles humildes pescadores e operários, ou pessoas de mais avantajadas posses.
Convidado por seus familiares eu, por uma dívida de gratidão, com Agonia Frasco logo pensei que na podia faltar, com a minha presença, nessa justificadíssima memória. Por acção e compreensão foi ele que me iniciou nas lides de pobres artiguelhos que há mas de quarenta anos espalho.
E assim, nesse frígido dia de Dezembro, marquei a minha presença no salão do museu, onde vários amigos de Manuel Agonia ou dos seus familiares, e entre outros, póveiros e não só, certamente quiseram aliar-se a prestar a sua homenagem a UM HOMEM BOM, da Póvoa do Mar.
Como de costume, sempre fujo a destaques, sentei-me juntamente com o meu irmão Neca Morim numa cadeira bem atrás. Com espanto vejo o meu amigo Dr. Manuel Costa, que ao vir-me cumprimentar manifestou o seu espanto por estar a ocupar um lugar quase escondido, pois tinha um lugar reservado na frente, dado que eu teria que, durante cinco minutos, falar sobre as minhas relações com Agonia Frasco. Dado a minha estranheza informou-me que a Senhora Dona Emília Nóvoa Faria Frasco lhe tinha dito QUE EU IRIA TER UMA INTERVENÇÃO. Apanhado de surpresa lá me dirigi para o lugar e a cogitar como me deveria desenrascar.
Enquanto os dois oradores, que me antecederam iam proferindo a sua admirável lição eu, magicando, lá consegui nos resquícios da minha memória ordenar algum facto que tivesse escondido no meu já bastante desgastado cérebro.
No entanto, quando me vi perante a situação (Dona Emília, pensava que falaria do meu lugar sentado e em frente do microfone), resolvi num impulso que não sei onde o fui buscar, o fizesse de pé, olhos nos olhos da digníssima assistência e não escondido por detrás de uma quase cabine como num estúdio de rádio, ao memo tempo que improvisei, numa espécie de conversa, o relato de um assunto que, em tempos já distantes, tinha tido com o Amigo Agonia.
Ao ler “ O Comércio “ que todas as semanas digeria com inusitado interesse lembrei-me que na crónica seguinte poderia acusar uma coisa que andava esquecida pelas gentes mandatárias da Póvoa. Um jornal com o prestígio e história, como “ O Comércio “ não estava distinguido na Toponímia Poveira, assunto que então em artigo debati. Dias depois, Agonia Frasco, jubilosamente telefona-me diz . SABES QUE A CAMARA ACOLHEU A TUA SUGESTÃO. Temos de combinar um dia para se ir ver o lugar que é na Mariadeira, e assim aconteceu, E “O Comercio da Póvoa de Varzim” para sempre ficará recordado na toponímia poveira, graças ao assentimento e compreensão camarário.
Passado um tempo notei que o nosso jornal, iria comemorar as SUAS BODAS DE DIAMANTE (é costume esta festa fazer-se comemorando a data de um casamento, e o “Comércio” também a tinha que lembrar já que em 3 de Dezembro, se pode dizer que festejava O CASAMENTO DE UMA IRREQUIETA JUVENTUDE DO PRINCÍPIO DO SEC.XX, com um novel jornal que passados 108 anos ainda era possuído do espírito que animou os seus fundadores). Foi o mote para o escrito dessa semana.
Nesse mesmo dia, Agonia, telefona-me para me agradecer e informar que durante o dia não tinha feito outra coisa SENÃO, PELO TELEFONE TER RECEBIDO FELICITAÇÕES. Mas não se ficou por aqui, algum tempo depois, retine o telefone :- ARRANJASTE COM EU AGORA SEJA COMENDADOR. O estado distinguiu “O Comércio”, tens que cá vir para veres o recebimento da Comenda.
Manuel Agonia Frasco, era de facto, na verdadeira acessão da palavra, UM HOMEM BOM. Prestável, amigo, sacrificado pelo bem dos outros, adorador da sua terra e das suas gentes, conselheiro, dedicado ás instituições poveiras como atestaram as bandeiras que figuravam na tribuna, enfim uma pessoa em quem se pode confiar e que a sua fugaz, mas rica passagem por esta vida ficará eternamente assinalada. É um bom homem aquele que passa pela terra praticando o bem aquele, que desculpem a expressão “não faz mal a uma mosca” mas que ao fechar os olhos em rumo a eternidade é logo esquecido não como O POVEIRO MANUEL AGONIA FRASCO, que enquanto o mundo for mundo JAMAIS SERÁ ESQUECIDO e por isso a ovação que recebi após a minha intervenção neste homenagem a dirigi a MANUEL AGONIA FRASCO.
Braga, 2 de Fevereiro de 2012
LUÍS COSTA
Obs. Dona Emília se não concordar com alguma coisa, corte à vontade e bem assim também se achar longo. Cumprimentos para a Senhora, ao amigo Manuel e restante família . L.C.
Quinta-feira, 2 de Fevereiro de 2012
P a r n a s i a n i s m o
J O Ã O P E N H A
O “realismo em poesia acompanhado do estecticismo ou preocupação formal, á volta de temas exóticos ou comuns, sociais ou descritivos plástico-sensuais”, segundo a lição do prof,. Doutor Amadeu Torres (Castro Gil), em “Antologia Literária”, 2º vol., recebeu o nome de PARNASIANISMO. Afirma também o ilustre professor que o seu órgão era o jornal literário “A Folha, microcosmo literário” – 1868 – criado e dirigido por João Penha, ainda como estudante em Coimbra, com colaboração de Gonçalves Crespo, Guilherme Braga, Simões Dias, Guerra Junqueiro, Cândido de Figueiredo, Castilho, Antero de Quental, Teófilo Braga, Camilo, Gomes de Amorim. (1)
Revista literária, “A Folha” órgão, como disse acima, do movimento Parnasiano, rapidamente entusiasmou a geração Coimbrã. “Ao subjetivismo romântico”, quis opor “a objetividade parnasiana, transformando os versos em música e pintura, dando especial encanto e função à palavra.” (2)
Pela variedade da sua colaboração “ressalta o ecletismo” de A Folha que aceitava nas suas colunas, diz Doutor Amadeu Torres, os “metrificadores do ai ou de Lisboa” como “do mesmo modo que os “sacerdotes da ideia vaga ou de Coimbra”, como então chamava João Penha “aos românticos e realistas”.(1)
O Parnasianismo, segundo o autor acima referido em “Antologia Literária”, defendia a “arte pela arte, a superioridade do bom cinzelador de versos”. João Penha, afirmava que o poeta poderá dever mais ao trabalho próprio, do que à natureza. Dizia “O poeta não nasce, faz-se”.
João Penha ( João Penha de Oliveira Fortuna), poeta bracarense, nasceu em Braga, em 29 de Abril 1839, no prédio nº 7 da Praça Municipal, e faleceu também na sua cidade a 4 de Fevereiro de 1919. Conclui, com 34 anos de idade, em Coimbra o curso de Direito, dedicando-se após à formatura à Advocacia ao mesmo tempo que à produção poética. Deve-se a Penha a repescagem do Soneto para a Literatura Portuguesa, do qual foi um notável cultor “onde predominava ora a amargura e o desencanto, ora a mordacidade e a ironia triste”. (2) O vinho, as mulheres, o presunto foi a trilogia sua inspiradora, manifestada ao longo da sua poesia. A sua negação pela água está bem representada na quadra :
“No coração alegria,
Em conversa bom humor ;
Pelo vinho simpatia,
Por água um profundo horror.”
João Penha dirigiu, no Porto, a “República das Letras”, de que apenas saíram três números, De entre a sua bibliografia podem destacar-se as publicações “Rimas”,”Novas Rimas”,“Últimas Rimas”,”E o Canto do Cisne”, e ainda um volume de críticas “Por montes e vales”.(2)
Durante anos, João Penha foi vítima do esquecimento injusto dos bracarenses e só em 1939, é que passou a ser lembrado, quando lhe ergueram o busto, no Largo de São João do Souto, da autoria de António de Azevedo. Mas a má sina de João Penha estava traçada, teria que andar aos tombos pela cidade e sempre acompanhado por aquilo de que “tinha…um profundo horror” – água – e ela, depois da morte de Penha, com a benevolência dos seus conterrâneos, vingou-se. A seus pés, no largo de São João do Souto, colocaram um espelho de água ; quando passou para a Avenida Central, foi assente num canteiro do jardim onde há um poço e finalmente, no Largo do Rechicho, sobre a antiga nascente de água que ali existia e, ainda para mais desconsideração, o seu busto foi colocado de costas para a Avenida.
Também a inauguração do monumento não foi apressada, parece que os responsáveis de 1919 tinham uma certa relutância em proceder ao acto. Vários dias esteve coberto por um trapo até que um grupo de irreverentes estudantes, numa noite resolveu fazer à sua maneira a inauguração rapando e colocando aos seus pés uma jocosa quadra. E para terminar estas mal alinhavadas notas, passarei a transcrever um seu soneto e uma poesia, assinalada como inédita, numa publicação de 1909 :
R I M A S
UM ROSTO ENCANTADOR, QUASE MORENO,
DE UNS GRANDES OLHOS VERDES ANIMADO ;
NEGRO O CABELO, EM TRANÇAS ENASTRADO ;
CORRECTO O SUPERCILIO, IRIS SERENO ;
VERMELHO LÁBIO, SORRIDENTE E AMENO ;
BREVE A CINTURA ; O COLO, ASSETINADO ;
UM DONAIRE DAS OUTRAS INVEJADO ;
MAGRAS MÃOS ; O PÉ LEVE E PEQUENO ;
EIS A DAMA POR QUEM CHORANDO ANELO !
RIVAL DAS GRAÇAS DO CINZEL JÓNIO,
MAS FRIA COMO A NEVE : O MEU FLAJELO !
EIS A MINHA NATERCIA, O CRUEL DEMÓNIO
POR QUEM VIVO PERDIDO, MAS TÃO BELO
QUE NEM LHE RESISTIRIA SANTO ANTONIO !
P E R F I L
(inédito)
NÃO SERIA AMANTE O POETA,
E SE O SOU EU É POR MEU MAL,
SE A TI, CARA FLOR DILECTA,
NÃO FIZESSE O MEU MADRIGAL.
OS OLHOS AOS CÉUS LEVANTO :
VEM-ME IDEAS, MAS CONFUSAS.
QUE DIREI ? QUE TENS ENCANTO
A GRAÇA ANTIGA DAS MUSAS,
QUE MUITAS VEZES SINCERAS,
OU COM VOZES DE SEREIAS,
INSPIRARAM N’OUTRAS ERAS
CANTOS DE AMOR, EPOPEIAS.
OS TEUS OLHOS AZULADOS,
COM TONS DE GLAUCO MAR,
PRENDEM MINH’ALMA EM CUIDADOS,
FAZEM MINH’ALMA SONHAR.
FICO-ME COMO QUE OUVINDO
VAGOS SONS D’HARPAS EÓLIAS,
QUE A BRIZA ME TRAZ FUGINDO
POR ENTRE AS BRANCAS MAGNÓLIAS,
SE DE TEUS LÁBIOS DE ROSA
SABE A VOZ QUE NOS ENLEIA,
COMO UMA VOZ MELODIOSA
DUM ROUXINOL QUE GORGEIA.
NO TEU CABELO OPULENTO
CASTANHO-ESCURO, DOIRADO,
LÁ VIVE O MEU PENSAMENTO,
O MEU CORAÇÃO, COITADO
!
VIVO EM TI, NEM ME DOMINO,
QUE EM TODA A FACE DA TERRA
NÃ HÁ CORPO MAIS DIVINO
PELAS BELEZAS QUE ENCERRA !
QUE DESENHO IDEAL E FRANCO !
NOSSO AMOR, NOSSO MARTÍRIO !
CORPO DE MÁRMORE BRANCO,
E DENTRO . . . A ALMA D’UM LÍRIO !
CANTAR-TE MELHOR NÃO PUDE,
E ERA NOITE DE LUAR !
OH ! VEM, MEU TRISTE ALAÚDE,
VAMOS COM ELA SONHAR!
João Penha (3)
Braga, Janeiro de 2012
Luís Costa
(1) – Amadeu Torres (Castro Gil) - Antologia Literária
(2) – Diário do Minho Pag. Cultural -1/02/2012
(3) - Almaq. Ponte de Lima -1909
Obs. Caro Amigo Dr. Pinheiro, baseado no Diário do Minho, como me informou, fiz mais uns acrescentos.
Ao meu amigo, peço faça as correcções que achar por bem.