Quinta-feira, 7 de Julho de 2011
A modos de
P R E F Á C I O
Corria aquele distante de Agosto de há cinquenta anos, por entre a calma daqueles que, como nós tínhamos de aguentar a escaldante temperatura que nos primeiros dias do mês se estava a fazer sentir. Tínhamos uma desculpa para não se “ir para férias lá fora”, isto é em Aver-o-Mar, ou se quiserem como a apelida muita gente há aquela ridente, Abremar, agora vila, do concelho da Póvoa.
Nos dias de hoje nem é preciso, dar qualquer desculpa, para aqueles que não querem dar a conhecer as dificuldades do “veraneio lá fora”. O Estado encarregou-se de a arranjar, depois de nos espremer. Noutros tempos também havia problemas mas os casacas bracarenses, resolviam a situação e toda a gente ficava confiante na afirmação de que as férias tinham sido boas. Fechavam as janelas e portas viradas para a rua e depois de se terem abastecido para um mês, fixavam-se nas traseiras e durante o calorento mês ali viviam sem sair à rua.
Ora nós, sempre bem abastecidos mal de dinheiros, tínhamos uma razão mais plausível. Estava para chegar a cegonha com um ou uma pimpolha, encomendada em Paris meses antes. A questão de ser macho ou fêmea, já não nos interessava, já havia que chegasse de um ou de outro lado e mais um ou uma seria o que Deus quisesse.
Chegou o dia 8 de Agosto, manhã cedinho a mãe Helena prepara-se para mais um dia de trabalho, mas nem chegou a sair de casa. Um correio com aviso de recepção anunciou que a encomenda estava a chegar. Bom, era necessário ir buscar a pessoa certa que receberia a cegonha com a coisa encomendada, já que os prazos fixados se iam cumprir – entrega a fazer-se no oitavo mês do ano e no oitavo dia desse mês.
A jardineira Fiat, abastecida e, ala que se faz tarde, até ao Pico de Regalados buscar a tia Alcina, familiar devidamente habilitada para receber a cegonha e já costumeira da casa.
A avó Cota, logo avisada, pressurosa, apareceu pois ela morando no Carvalhal era um pulo até Santo André. Com as suas recomendações a todos os anjos e arcanjos lá foi desfilando as suas preces e conselhos. A cegonha estava atrasada, talvez os ventos seriam contrários, e a tenham impedido de chegar com a pressa que todos desejávamos.
Assim estava a decorrer o dia e já pelas sete da tarde a avô Cota, que se contorcia, como sentindo o transe porque naquele quarto se estava a passar, achou que a encomenda não veria para já e teria tempo de ir a casa jantar e logo viria. Ainda mal teria tempo de chegar ao Carvalhal e, já eu, a correr a interpolei anunciando que afinal a cegonha tinha chegado e a encomenda, era um encaracolado rapazinho.
Assim veio o mundo o irrequieto rapaz, que logo se resolveu se chamasse Paulo, e sobrenome Jerónimo, em homenagem ao seu avô paterno, para o qual o dia 8 de Agosto, teve especial significado.
Depois, a sua irrequietude deu-nos que fazer e até um dia resolveu fazer de pára-quedista e lançou-se varanda fora, indo cair nos braços de um magala. Já agora, vamos falar no problema que nos causou quando resolveu saltar ao quintal do vizinho e pegando numa melancia a atirou ao chão, esborrachando-a e dizendo, AI UMA BOLA.
Braga, 8 de Agosto de 2011
LUÍS COSTA